A crise pode ser entendida como um processo natural do desenvolvimento, pode ser provocada por “eventos acidentais” e tem características dinâmicas que provocam estratégias de enfrentamento e consequências conforme o desfecho.
As crises podem ser identificadas em nosso cotidiano, em diversos contextos como crise econômica, crise política, condição de saúde crítica, entre outros. A ideia de crise geralmente é atribuída a um valor negativo, com sinônimos como desequilíbrio, recessão, depressão, risco, perigo, dificuldade, mudança, sendo assim, vale a pena destacar, conceitos de crise trazidos por alguns autores.
Erik Erikson, psiquiatra e psicanalisa, autor da teoria da Personalidade nos traz o conceito de crises vitais e acidentais, aonde as crises vitais estão relacionadas aos estágios de desenvolvimento e as crises acidentais relacionadas a situações de perdas que trazem desorganização temporária.
Gerald Caplan, autor do livro “Os princípios da Psiquiatria Preventiva” assinala que uma crise ocorre quando a pessoa se depara com situações que assinalam perigo para satisfação de uma necessidade fundamental onde a tensão provoca sentimentos como frustração que pode envolver problemas na manutenção da integridade do organismo ou do grupo.
Outro modelo de crise, foi proposto por Tavares (2004) coordenador do Núcleo de Intervenção em Crise e Prevenção do Suicídio da UnB, no qual estabelece uma relação entre a ocorrência de eventos de vida adversos, ou crises acidentais e o desenvolvimento de quadros psicopatológicos. O conceito aborda a crise como um processo, assim como a constituição das vulnerabilidades no processo de crise. A relação desse modelo com o desenvolvimento de psicopatologias parte da concepção de que a predominância de vulnerabilidades e de um ambiente externo adverso, associada a uma escassez de recursos internos e de um ambiente de apoio e suporte, aumenta a propensão a não superação de crises, com formação de sintomas, risco de ruptura com sequelas graves e desenvolvimento de psicopatologias.
Desta forma, toda terapia que visa lidar com situações traumáticas passa necessariamente por recordar e rememorar a situação, sendo de suma importância o relato verbal visando clarificar e organizar o processo terapêutico, ou seja, para superar um trauma, a primeira condição é enfrentá-lo, pois em termos de comportamento humano, a tendência é tentar reduzir o que é doloroso e desagradável, tentar esquecer o quanto antes.
É neste ponto que o papel do Psicólogo pode ser essencial.
Os profissionais que atuam com este tipo de intervenções devem ser ativos, diretos, capacitados a obter objetivos rápidos diferentemente dos profissionais que intervém em situações que não são de emergência.
A intervenção em crise é uma estratégia de ajuda que visa auxiliar uma pessoa, família ou grupo no enfrentamento de um evento traumático. Desta forma, o profissional deve ser ágil e flexível para colocar em prática ações para a resolução de problemas e para a superação das múltiplas dificuldades que possam surgir no processo de atenção, procurando satisfazer as necessidades imediatas daquele que necessita de atendimento, colocando em funcionamento ações com os recursos disponíveis, tudo num período de tempo reduzido.
Para quem é atendido, às vezes é bastante doloroso falar a respeito do que se passou, mas a maioria refere um alivio e uma redução dos sintomas após ter falado sobre o acontecido.
Então, indiferente do tipo de crise, a intervenção terapêutica é importante para estabelecer metas durante a superação da crise, focada em ajudar as pessoas a lidar com o evento traumático de uma forma mais imediata, tentando ajustar-se à nova situação, diferente do tratamento na psicologia clínica que tem por objetivo uma mudança profunda do paciente ou uma revisão da origem dos seus conflitos.
Estas metas são desenvolvidas através de um convite ao indivíduo para que fale de sua experiência, fazendo com que observe o evento à distância ou perspectiva, ajudando-o a ordenar e reconhecer seus sentimentos, ajudando na resolução de problemas, começando pelas metas mais práticas e imediatas e claro, o acompanhamento a longo prazo também é importante, mas cabe uma avaliação caso a caso, diante da necessidade de cada um.
Para finalizar, é importante termos em mente que todo evento de crise é emocionalmente significativo e gera uma mudança significativa na vida de quem a vivenciou, portanto cada situação deve ser avaliada e tratada de maneira singular.
Por Cristina Leandro - Psicóloga e Psicanalista
Comments