LUTO EM ÉPOCA DE PANDEMIA: ENTENDENDO O PROCESSO DE LUTO
- Inspire Psicologia´s e Psicanálise
- 13 de jul. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 10 de ago. de 2020
Estamos vivendo uma época difícil que entrará para a história por conta da pandemia causada pela disseminação do vírus COVID-19 que vem afetando o cotidiano de várias Nações e por isso se torna inevitável falarmos sobre LUTO.
Apesar da palavra “LUTO” nos remeter automaticamente à “MORTE”, é importante salientar que o luto é o rompimento de um vínculo significativo, ou seja, é comum uma pessoa vivenciar o luto pela perda de um ente querido, porém a perda de um emprego, de um relacionamento, de um animal de estimação, de um status social, enfim a perda de qualquer vínculo que seja muito importante para uma pessoa, também é passível de luto.
Desta forma, podemos perceber que as perdas estão e sempre estarão presentes em nossas vidas e que ´portanto, o luto também é algo inevitável na vida de todos.
Apesar do luto ser algo inevitável em nossas vidas, geralmente não estamos preparados para enfrentá-lo.
Como fica este processo em época de pandemia?
Cada cultura tem a sua maneira de lidar com a perda de um ente querido, mas podemos dizer que em todas as culturas existem rituais que ajudam os indivíduos atravessarem o processo de luto e temos observado que o cenário trazido por esta pandemia tem privado as pessoas de realizarem seus rituais, dificultando a despedida e enfrentamento deste processo.
Infelizmente as empresas funerárias estão tendo que seguir protocolos para evitar aglomerações e mesmo a causa da morte não sendo COVID-19 os velórios estão sendo realizados de forma restrita.
A situação para aqueles que perdem seu ente querido por conta do vírus COVID-19 se torna mais complicada, pois a privação ocorre muito antes da perda, por conta da necessidade de isolamento total para aquele que é infectado, privando familiares e amigos de todo e qualquer contato e portanto privando também do ritual de despedida.
Possivelmente ao final desta pandemia, tenhamos pessoas com problemas psicológicos por conta do luto frustrado, por não terem conseguido realizar este ritual de despedida que ajuda na elaboração do luto.
É de suma importância conhecermos como ocorre este processo de luto, para tanto, cabe citar a teoria das 5 fases do luto, desenvolvida pela Psiquiatra Elisabeth Kubler Ross.
A primeira fase ela chamou de “Negação”, que serve como um mecanismo de defesa temporário para que a pessoa não sinta a dor psíquica que é desencadeada diante da perda.
Na segunda fase denominada como “Raiva”, surge uma raiva muito intensa pelo que aconteceu e junto com a raiva pode vir revolta, ressentimento e muitas vezes esta raiva é externalizada, tornando difícil a convivência com os demais e propiciando um ambiente hostil.
Já a “Barganha”, considerada a terceira fase de reação à perda, é uma tentativa de negociar ou adiar os temores diante da situação, onde a pessoa faz algum tipo de acordo, promessa, na tentativa de que as coisas voltem a ser como era antes e muitas vezes estes acordos não são externalizados, mas elas desejam imensamente que aquilo aconteça na ilusão de que a situação anterior vá voltar.
A quarta fase denominou como “Depressão”. Nesta fase a pessoa já não consegue negar a situação em que se encontra, fica mais introspectiva e por vezes acaba por se isolar das pessoas.
O processo geralmente ocorre como se fosse uma evolução. Primeiramente ocorre a negação do problema, depois se depara com o problema desencadeando uma raiva intensa, esta raiva gera um desespero que faz ela barganhar de alguma forma na tentativa de mudar a situação e não alcançando resultados, entra na fase da depressão para então entrar na última fase denominada “Aceitação”.
Na fase da aceitação a pessoa vivencia e aceita os acontecimentos. Enfrenta a situação de forma mais serena, com consciência das possibilidades e limitações. Consegue expressar de forma mais clara seus sentimentos, emoções e frustrações. Não é uma fase feliz mas será desta maneira que poderá enfrentar e finalizar este processo de luto.
É importante ressaltar que não necessariamente as pessoas passarão por todas estas fases do luto e também as que passarem, não passarão necessariamente nesta ordem.
Diante do exposto, é de suma importância termos a consciência de que o luto não é um processo fácil, nem tampouco um processo simples e que não há um tempo determinado para que ele se finde.
Cada pessoa tem seu próprio tempo para lidar com o luto, portanto o tempo de cada um deve ser respeitado.
Por Cristina Leandro - Psicóloga e Psicanalista
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